
GRAFITE E PICHAÇÃO
A intervenção no atelier chamada de pichação pelo vice-chefe do Dearte e que combatia a solicitação de cortar a cabeça de alunos do curso que haviam usado as paredes para grafitar (o que há de mais paleolítico do que as paredes como suporte), realça uma última questão: o atraso e a desatualização do curso de Educação Artística frente às novas práticas artísticas no contemporâneo, incluindo as novas tecnologias, isto nos leva de volta à pré-história.
O grafite e a pichação vêm sendo pesquisado há algum tempo como novos processos deflagradores de sentidos artísticos e estéticos, assim como seus sentidos sócioculturais em inúmeros programas de pós-graduação. Chamar a intervenção no Atelier de pichação tentando criminalizar a ação, foi outro equívoco da vice-chefia, pois só dimensionou o caráter contestatório da ação. Ao invés de rechaçá-la deu-lhe densidade artística e estética, visto que a marca da pichação não está em sua função de arte tradicional com composição, cor etc., mas no caráter intervencionista de sua ação como nas intervenções surrealistas ou situacionistas de outros tempos. Usar spray ou o piche para dar vazão a qualquer tipo de expressão seja de caráter político como no Maio de 68, seja de caráter estético e intervencionista como se observa nas cidades contemporâneas, abrem possibilidade de debate e pesquisa acerca do papel dos sujeitos urbanos.
O professor Paulo Knauss da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em (estátuas, monumentos, grafites, pichação), “analisa essas formas de expressão como motivo de estudo, antes de mais nada. Na cidade encontram-se formas distintas de vida social. Elas se interagem. A ordem nunca está plenamente posta, por mais que urbanistas e o poder público estejam sempre prometendo uma sociedade ordenada ideal.”[i] O que nos permite indagar o porquê da vice-chefia, ao invés de propor debate e discussões sobre a prática dos alunos e a intervenção no Atelier, arvorou-se em correr para a mídia e gritar com sua verborragia atabalhoada e empanicada que estavam destruindo o patrimônio público da Universidade. O grafite e a pichação ainda são experiências que assustam o elitismo de mentes estreitas, mesmo na universidade. E não é mais cabível que os fenômenos que nos cercam sejam avaliados com preconceitos a priori, sem que busquemos suas razões intrínsecas.
O episódio do Atelier revelou uma questão fundamental na universidade pública: que os alunos perderam o medo da repressão e da perseguição de professores e gestores que não tem compromisso com a universidade e o ensino de qualidade. Buscar o debate, o confronto e o conflito como dimensões essenciais do processo do conhecimento e da formação profissional, é fundamental para a construção da sociedade contemporânea.
Luizan Pinheiro
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2006.
* Professor do Departamento de Arte da UFPA. Mestre em História e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando na mesma universidade.
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2006.
* Professor do Departamento de Arte da UFPA. Mestre em História e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorando na mesma universidade.
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