sábado, 12 de janeiro de 2008

a rua é o suporte

A rua é o suporte. A realidade, a inspiração*

Grafiteiro carioca ACME

-Por que fazer graffiti?

- Eu vivia fazendo o meu desenho um lance mais individual. O meu interesse nunca foi trabalhar com arte e sim fazê-la. Eu ficava me perguntando: de que vale a minha arte se ela não está sendo exposta, se ela não tem efeito? Eu não gostava de ficar pertubando os outros com esse papo: “-Ai mano, chega ai, vê só que irado meu desenho!” O graffiti foi a única forma que eu encontri de expressar a minha arte, sem pedir permissão a alguém. Ta na rua! Observa quem quer, porque quer, como quer, da forma que quer e quando quer.

- O que você entende por arte social?

- O Graffiti é uma arte social, exemplo disso é que nos reunimos em grupo e pintamos o muro, uma parede ou o que for. Na minha opnião, por mais anti-social que seja o escritor, a arte dele é totalmente social. Seja em grupo ou individualmente, estamos intervindo em cidades e comunidades, causando efeito. A conseqüência é que complementamos a vida destas pessoas que na verdade, são nossos “muro espectadores”. Já de fato que o grafite surte um grande efeito na sociedade. O meu grafite é uma arte social.

-Em seus trabalhos se nota muita força. Você busca passar alguma coisa em especial através deles?

- Geralmente sim. Mas não vejo isso como obrigação. Eu pinto o que me inspira. Pra mim, 2003 foi um ano difícil no exército. Passei a enxergar, em meio a discursos ptrióticos e honra ao mérito, política e capitalismo. Percebia hipocrisia que é esse papo de lutar por uma pátria, onde nossos comandantes só estão preocupados em acumular poder. Enquanto isso, um monte de alienados estão se matando no campo, debaixo do sol quente, cantando: “quando eu morrer, vou de Fal e Bereta; chegar no inferno dando tiro no capeta!” E estão pouco se importando para a situação da sociedade civil. Eu estava me sentindo usado e descartado mp final. E foi ai que pintei um engravatado engolindo um cidadão magrelo, no bairro de Botafogo. Quem via a pintura dizia: “-Maneiro, o cara vomitando!” Mas o cara estava engolindo, porque é isso que vai acontecendo. Não basta ter mão de obra especializada, você tem que dissimular suas atitudes e sorrir para quem só quer comer a sua carne e jogar seu osso fora.

-Como você enxergava o grafite antes de começar? Em especial a velha escola?

- Admirava, assim como admirava os desenhistas em história em quadrinhos ], os pixadores antigos, os skatistas. Faz parte da minha cultura saber chegar, pois cada um aqui um dia vai fazer parte desse ciclo e observar a vanguarda avançando mais rápido, como conseqüência das nossas inovações do passado. Por mais que eu pinte hoje, nunca vou me comparar com um escritor que pintou ha 20 anos, pois hoje está mais fácil ir para a rua fazer grafite. A velha escola são nossos heróis da resistência.

- O que você pode dizer com relação ao bombardeio?

-Bombardeio é o que geralmente faço quando pinto fora do muro. O grafite não está liberado em lugar nenhum e você só vai ter liberdade na sua pintura se bombardear. Porque se você pede autorização, geralmente quem sabe quer impor uma condição, e ai não será mais grafite e sim pintura encomendada. Quando saio para fazer grafite, tenho uma intenção com a minha pintura. Ela pode não agradar as pessoas, mas é o que eu quero fazer: exercer meu direito de liberdade de expressão.

-Como as pessoas e a polícia se relacionam com o Grafite Arte e o bombardeio?
-Na maioria das vezes eu temos problema com a polícia é porque algum cidadão civil fez denúncia. Volta e meia isso acontece e sempre vai acontecer porque toda parede que a gente vai pintar é de alguém. Porém, isso não tem acontecido como há seis ou sete anos, quando acontecia com freqüência. Isso prova que as pessoas estão aceitando mais. E quanto a policia, acho que a violência está tão em alta que eles não estão nem ai se a gente bombardeia ou se estamos fazendo grafite arte. Se estamos invadindo, pelo menos isso é menos grave que assaltar e matar. Lembro da época que eu era pego pichando, já fui espancado e pintado diversas vezes. Hoje a abordagem tem sido de maneira mais educada, isso prova que estamos conquistando respeito.

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*Trechos da entrevista para revista RAP Brasil GRAFFITI

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Entrevista com o grafiteiro André


André é um grafiteiro que já está na estrada a muito tempo, participou de projetos como o AMGRA e o Celpa em grafite. E que consegue se manter com o dinheiro que ganha como arte-educador na prefeitura de Belém, dentro do CEAL (Coordenadoria de Esporte Arte e Lazer) no projeto Metropole em Cores. Ele abandonou a profissão de barman para poder investir no que ele acredita ser a sua liberdade, o grafite.

-A pichação:

-O grafite é feito pra comunidade admirar, a pichação é o bomber (grafite livre, sem autorização) pra gente grafiteiro. É sem permissão. O pichador marca território, o grafiteiro faz pra demonstrar a arte.

-A escolha pelo grafite:

-Eu era barman de profissão, mas eu queria a liberdade de me expressar. E essa liberdade está num grafite feito sem uma temática. A temática já tira a liberdade. Para mim conseguir tirar os meninos que participam das oficinas da ociosidade já é liberdade.

-Outros projetos:

- Participei de outros projetos sim. Participei do final do Celpa em Grafite, já no final, fui um dos fundadores do AMGRA (Associação Metropolitana de grafiteiros), em Marituba, que hoje está sendo transformado no AMA (Associação de grafiteiros de Marituba).
O AMGRA foi pensado pra região metropolitana, ele não foi pra frente porque era grandioso demais pro que a gente podia. Ele se dividiu por causa de brigas políticas.
Agora, no AMA, eu e o NB (grafiteiro de Marituba), estamos na capacitação de recursos e ele já tem o apoio dos comerciantes de Marituba. Mas, não é um projeto só de grafite é uma coisa maior, ele tem poesia, artes plásticas, música, vários pequenos projetos dentro de um projeto maior.
Também dou oficina no Ginásio Alan Kardec, na Condor. São vinte e duas logomarcas da comunidade feitas na oficina de grafite, onde a gente ensina técnicas e respeito com o meio ambiente. E a gente já conseguiu muita coisa, antigamente o ginásio vivia todo pichado, agora não, ele foi pintado e não foi riscado.

- Arte:

- Uma variação muito grande de coisas que vai desde uma simples pedra dito por um artista até um vaso pendurado.

- O Grafite:

- O grafite é arte. Pela força de expressão que ela tem e por conseguir unir pessoas num espaço às vezes adequado e às vezes não. É uma outra opção pro lazer e profissional.

- O Grafiteiro:

- É toda pessoa que pode se expressar sem medo de ser reprimido.

- O Pichador:

- O cara que se arrisca de madrugada.

-Oficinas:

A comunidade aprende a diferenciar o real que é o grafite e a ficção que é a pichação. O pichador precisa se esconder.
Sandro Pardal, um grafiteiro em viagem

Sandro Pardal, mais conhecido como Pardal, é um morador do bairro da Terra Firme, periferia de Belém e um grafiteiro que está sempre envolvido nas atividades que dizem respeito a sua arte.
O regionalismo faz parte de sua temática constante, principalmente no que diz respeito a pintura marajuara, ele está sempre se utilizando dela como forma de arte urbana capaz de interferir num meio que não o que tradicionalmente foi construído.
Pardal já foi pichador e tem muitas aventuras para contar do tempo em que andava pelas ruas de Belém procurando se arriscar para fazer de seu risco algo que estivesse em evidencia, mas ele diz que isso é coisa do passado.
Como grafiteiro engajado em projetos participou do Pichando Arte, do Celpa em Grafite e ultimamente do Metrópole em Cores, sempre como alguém reconhecido e respeitado pelos outros grafiteiros como uma referencia de artista por está na cena a bastante tempo.
Ele sempre é citado como um grafiteiro que já faz parte da velha guarda do grafite em Belém, pois é um dos mais velhos, com 32 anos já presenciou e já fez acontecer muita coisa no mundo do grafite.
E quando lhe é perguntado a respeito do grafite enquanto crime ele faz questão de apontar os políticos como sendo os verdadeiros criminosos se utilizando do trabalho dos grafiteiros para sujar a cidade com a divulgação de seus nomes e depois mandando prender aqueles que ajudaram a ganhar as eleições.
Além de tudo, Pardal é um grafiteiro viajante, já conheceu várias cidades do Pará e sempre ganhando dinheiro com sua arte de grafitar e também de fazer suas tatuagens de rena, consegue se manter e manter seus materiais sempre prontos para a próxima viagem.
Agora em julho ele já partiu para Algodoal e com certeza está grafitando por lá.

O Grafite
(para Quick)

O grafite é uma arte que dá voz a quem não consegue usar os meios convencionais de comunicação. Ele está em todas as paredes do mundo, sem medo de exageros, é a voz da juventude que não se conforma com o silêncio. São desenhos e palavras que demarcam o território e dizem que eu existo.
O grafiteiro é um homem ou uma mulher que não tem uma vida convencional, mas que está voltado para o risco.
O grafiteiro percorre as ruas com vontade de fazer de cada muro o seu território, de cada spray a sua caneta.
O grafite se torna a vida e a dúvida de quem constrói.
Ele não tem a responsabilidade de embelezar, mas de comunicar, ou seja, a ele não cabe satisfazer a terceiros...
Por isso, o grafiteiro ama e nega, odeia e diz, relata nas paredes das cidades o medo, o ódio, o desejo de liberdade e o amor que não conseguem dizer de outra forma.
Mesmo quando está ausente...
(Leila Leite)

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Recortes de jornais:

Alguns recortes de jornais que podem ser encontrados no centur e que contam um pouco da trajetória do grafite em Belém.
-Pixação Paes de carvalho, folha do norte, 5 de setembro de 1951, pág1
-Pichador agora procura embelezar muros (Folha do Norte – 12-07-90 – pág-11)
-Projeto direcionado aos grafiteiros. (Província do Pará – 15/05/1991- pág-13 caderno 1)
Sprays em punho, pichadores deixam marcas na cidade (O liberal- Jornal dos Bairros –06/08/91 pág-3)
Fundação curro velho estará promovendo no período dede 12 de agosto a 23 de setembro a oficina “Grafite: a linguagem Urbana” com limite de 30 vagas
Ampliar a forma artística e a mensagem do grafite (O Liberal, 08/011/91 caderno-2)
Pichação Vira Arte e tira jovens da rua (O Liberal – 03-05-98 – pág.10)
Grafite Religion (marituba)
Daben (Distrito Administrativo do Bengui)

Movimento em busca da consciência (O Liberal – 11-03-01 – Cartaz pág-06-08)
Pichando Arte que o evolui para atual Pichando Arte Amazom Grafite que reúne mais de 20 jovens
Pichadores dão Salto de Qualidade (O liberal – 11-03-2001)
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